Coronavírus faz educação a distância esbarrar no desafio do acesso à internet e da inexperiência dos alunos

O aumento no número de casos de coronavírus no Brasil levou à suspensão de aulas da rede pública e privada em todo o país. A medida serve para evitar aglomerações e deslocamentos. Segundo autoridades de saúde, uma das melhores formas de parar a transmissão de casos é ficar em isolamento social.

Sem aulas, estabelecimentos de ensino têm adotado a educação a distância (EAD), com uso de computadores e atividades complementares, para dar continuidade à aprendizagem das crianças.

No entanto, nem todos os estudantes do país têm acesso a computadores e à internet de qualidade. Outro problema é manter a concentração de crianças mais novas, enquanto os pais também trabalham em casa.

Segundo a Unicef, 154 milhões de estudantes estão sem aulas na América Latina e Caribe. A entidade alerta que a situação poderá se estender, e há risco de abandono escolar definitivo.

Acesso à internet

Uma pesquisa divulgada em 2019 aponta que 58% dos domicílios no Brasil não têm acesso a computadores e 33% não dispõem de internet. Entre as classes mais baixas, o acesso é ainda mais restrito. A pesquisa foi feita pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), entre agosto e dezembro de 2018. Os dados apontam que, nas áreas rurais, nem mesmo as escolas têm acesso à rede mundial de computadores: 43% delas afirmavam que o problema é a falta de infraestrutura para o sinal chegar aos locais mais remotos.

“A gente gosta de dizer que crianças convivem com internet, com computadores, que elas são letradas na realidade virtual, mas a gente esquece que essas crianças são de classe média. As mais pobres não têm acesso fácil como a gente gosta de imaginar”, afirma Alexsandro Santos, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo e coordenador do Curso de Pedagogia da Faculdade do Educador.

Ele ressalta que, mesmo quando estão conectados, o acesso à internet é feito por meio de celular, que não é um instrumento mais adequado para acompanhar ou fazer as atividades da escola.

EAD no ensino fundamental

Para crianças mais novas, que estão no ensino fundamental (do 1º ao 9º ano), a EAD é permitida em situações emergenciais. O Ministério da Educação informou em nota ao G1 que deverá regular a atividade por 30 dias, prorrogáveis, ainda nesta semana.

“A ação tem caráter excepcional e valerá enquanto durar a situação de emergência de saúde pública por conta do coronavírus. A adesão por parte das instituições é voluntária”, afirma o MEC.

O desafio de pais e tutores será manter o foco e atenção das crianças em casa, principalmente as menores, enquanto também trabalham. Iniciativas do governo federal para regulamentar a educação em casa (homeschooling) não avançou no congresso.

Para Alexsandro Santos, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo e coordenador do Curso de Pedagogia da Faculdade do Educador, é importante pensar sobre o grau de independência que uma criança tem pra estudar acompanhando uma plataforma virtual, já que o modelo de ensino tradicional abre pouco espaço para a autonomia dos estudantes.

“A interação que as crianças têm no mundo virtual, normalmente, é bastante passiva. Quando a gente está chamando elas para uma interação de ensino aprendizagem, a gente precisa que elas atuem, que sejam ativas nessa interação com a plataforma. Mesmo quando a gente pensa em crianças mais velhas – como os adolescentes de 12, 13 anos –, é importante se perguntar se a gente preparou essa geração para construir hábitos de estudos autônomos”, afirma Santos.

Felippe Zancarli, coordenador de Tecnologia Educacional do Salesiano Santa Teresinha, também considera que a falta de maturidade de alunos dessa faixa etária para tocar as atividades por conta própria pode ser um problema. Para ele, o suporte dos pais no dia a dia será fundamental.

Convivência entre crianças

Durante a pandemia, pais e responsáveis terão que driblar uma das funções da escola, que é ser a de espaço de convivência com outras crianças. Em tempos de isolamento social, a convivência terá que ser adaptada.

Para quem pode, é possível fazer videoconferência entre os coleguinhas, para que as crianças se vejam neste período.

“Precisamos lembrar que os nossos lares não dão conta sozinhos do processo de sociabilização, proteção e cuidado. Muitas vezes, a escola é o lugar onde as crianças comem direito, onde as crianças aprendem a utilizar as ferramentas sociais de convívio, onde as crianças podem contar situações difíceis que estão passando em suas casa. Mesmo que a gente tivesse todas as condições tecnológicas, eu ainda diria que a escola presencial é fundamental para garantir outros direito para as crianças” – Alexsandro Santos, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo e coordenador do Curso de Pedagogia da Faculdade do Educador.

Fonte: G1

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